A Caverna de Adulão
1. No primeiro livro de Samuel, capítulo 22, está registrado o momento da vida de Davi quando Saul o perseguia obrigando-o a esconder-se. O lugar escolhido foi a caverna chamada de Adulão. Quando ouviram essa notícia, os irmãos de Davi e toda a casa de seu pai desceram para ter com ele. Com ele se ajuntou todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens. É preciso compreender que Davi sofria perseguição por puro ciúme. Nada fez que pudesse levar a Saul a preocupar-se, senão o fato de que Davi caiu na graça do povo, por uma seqüência de vitórias obtidas a partir da morte de Golias. 2. É duro sofrer injustamente! a) Na cabeça de Davi certamente havia muita confusão, pois alguns anos antes fora ungido rei sobre Israel, e agora, a cada dia, a profecia ficava mais longe de cumprir-se. Sentir tristeza por causa do momento difícil, atribulado, era natural e compreensível. Mas por que o crente sente-se deprimido, angustiado? Este estado é permitido ao filho de Deus ou não? Para alguns, deprimir-se, sentir angustia, não pode ser de Deus. Para mim, angustiar-se é perfeitamente compreensível. A caverna de Adulão teve um papel muito importante na vida de Davi. Foi um momento em que viveu num ambiente onde era permitido chorar. Há ambientes onde não se pode angustiar-se. O choro é visto como uma fraqueza espiritual, e isto, na verdade é desumanizar-se. Para ser humano é necessário viver as etapas da vida, uma a uma, sem desconsiderá-las. Deixamos de ser humanos quando adotamos comportamentos mascarados pela pseudo espiritualidade, agindo como super homens, que superam de forma automática qualquer dificuldade que surgir. Na caverna, Davi escuta sua própria voz, ouvindo os lamentos de seus companheiros, suas histórias e dificuldades de entender seus tropeços. 3. Na caverna não havia lugar para pessoas como Elifaz, Zofar, e Bildade, que analisaram o problema vivido por Jó como fruto do seu pecado. a) Graças a Deus na caverna, todos os que ali se encontravam, podiam se compreender e nada cobrar pois eram todos humanos. A caverna era o refúgio para quem precisava parar, pensar e tentar entender seus caminhos. Na caverna o líder não era um homem insensível, que nunca teve problemas em sua vida, perfeito em todas as suas atitudes. Ao contrário, Davi também tinha o seu problema. Estava aprendendo a compreender a dor das pessoas, a partir da sua própria dor. Também aprendia a valorizar cada pessoa que se ajuntava a ele. Passava a ver o potencial de cada um, suas virtudes e defeitos. Ali todos precisam de um milagre. Não havia profetas de plantão a ministrar milagres na vida dos outros. c) Na caverna não havia como mentir pois todos estavam no mesmo barco e o status quo deixou de ser algo a ser perseguido. Agora é hora de pensar em sobreviver, sem luxo, sem requinte, sem floreios, sem subterfúgios, sem maquiagem. Não há discriminação quanto a nada, pois todos estão no mesmo barco. d) Também ali, na caverna, era lugar de profunda aprendizagem espiritual. Chegara o momento de Deus falar coisas sérias a Davi, exigir-lhe obediência e submissão. Na caverna é lugar de “conversa de homem para homem”. Aquelas conversas difíceis, onde derramamos nossa alma diante de Deus, questionando os fatos, o mal, a angústia. Davi precisava ouvir o Senhor falar, orientá-lo quanto a que rumo tomar. Quando estamos por baixo, endividados, angustiados, e às vezes até sem força para orar, tornamo-nos sensíveis ao Senhor e à sua voz. O quebrantamento vem com a dor. Há revelações profundas de Deus a nós quando estamos refugiados na caverna de Adulão. Jacó vive seu Peniel, vendo Deus face a face, ficando ele só, no vau de Jaboque. Ele vivia um momento de grande apreensão com a aproximação de Esaú que procurava matá-lo, e no pior momento, Deus se revelou, mudando-lhe o nome e o livrando. A igreja precisa ser uma caverna de Adulão! Um lugar receptivo, sem preconceitos e rico em aprendizagem. Não há vergonha em passar por períodos de tribulação. Mas é preciso aprender o que Deus quer nos ensinar para que a experiência valha a pena. Que o Senhor nos ajude!