Meditação Cristã
Osmar Ludovico
A meditação cristã é uma das mais marcantes e significativas páginas da história da Igreja. É uma expressão que vem desde a época dos Pais do Deserto. Foi muito utilizada e praticada pela Monástica e sistematizada na Lectio Divina pelo monge cartuxo Guigo II (1173-1180). Hoje é também conhecida como Meditação Cristã ou Leitura Orante das Escrituras.
Guigo II utiliza a idéia de uma escada para a prática da Lectio Divina, sugerindo uma subida para um encontro no alto, no monte de Deus, e logo uma descida para um encontro nas profundezas, no fundo do coração.
Statio (preparação), Lectio (leitura), Meditatio (meditação), Oratio (oração), Contemplatio (contemplação), Discretio (discernimento), Collatio (compartilhar) e Actio (ação) são os degraus dessa milenar tradição de ler a Bíblia.
Esses passos constituem um movimento integrado em que cada degrau conduz ao outro. Passo a passo, lentamente saboreando cada passo, em direção ao topo, para, em seguida, descer ao vale, voltar ao concreto e ao cotidiano.
Assim diz Guido: “A leitura – Lectio – é o estudo atento da Escritura feito com um espírito totalmente orientado para sua compreensão. A meditação – Meditatio – é uma operação da inteligência, que se concentra com a ajuda da razão, na investigação das verdades escondidas. A oração – Oratio – é voltar com fervor o próprio coração para Deus para evitar o mal e chegar ao bem. A contemplação – Contemplatio – é uma elevação da alma que se levanta acima de si mesma para Deus, saboreando as alegrias da eterna doçura”. E completa: “A leitura leva à boca o alimento sólido, a meditação corta-o e mastiga-o, a oração saboreia-o, a contemplação é a própria doçura que alegra e recria”.
O objetivo não é um estudo bíblico ou uma exegese. É leitura bíblica que nos conduz a uma experiência de encontro com Deus e a uma experiência de oração. Ex 33.11 diz: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer um fala ao seu amigo”.
O propósito da Lectio Divina não é, simplesmente, aumentar o nosso conhecimento intelectual, mas nos levar a um encontro vivo com Jesus Cristo. Tal encontro não nos deixa ilesos, mas faz com que nossa pobreza espiritual aflore, nossos pecados venham à tona, bem como nos indica o caminho da transformação de nossas vidas.
Sem isso, podemos conhecer as Escrituras só racionalmente, sem que elas penetrem nas dimensões mais profundas do nosso ser para tocar nossa consciência, nosso coração, nossa vontade.
Na leitura meditativa, a Palavra não é interpretada, mas recebida. Uma palavra única, exclusiva, que nos ajuda a penetrar no “mistério de Cristo em nós, a esperança da glória” (Cl 1.27). Na Lectio não empregamos a “força de vontade” ou uma disciplina da ordem da razão ou do esforço, mas lemos a Palavra para que ela nos surpreenda, para que ela toque a nossa alma a partir de uma revelação pessoal, dirigida pelo Espírito através de nossa intuição, nossa imaginação, nossos afetos e sentimentos.
Para ler a Bíblia de forma reflexiva, precisamos de um tempo de preparação, de corpo relaxado, de alma apaziguada, de espírito pronto e alerta. Começamos com o nosso corpo, suas dores e tensões, procurando relaxar em uma posição confortável. Faremos, então, contato com nossa alma e seus muitos ruídos internos, procurando trazê-la de volta ao seu sossego (Sl 116.7: “Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo”). Oramos ao Senhor, em quietude, com serenidade, aguardando o Senhor (Sl 130.5: “Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda, espero na sua palavra”). Então lemos a Palavra, sem forçar nada, deixando acontecer, nos entregando a ela, iniciando um diálogo com Deus no profundo de nossa alma. Podemos ter um diário onde escrevemos nossas meditações, resgatando uma linguagem mais poética, mais metafórica, uma linguagem da alma, dos sentimentos, dos afetos. Davi tinha um diário que se tornou o livro dos Salmos, onde contava e cantava sua vida com Deus.
A prática da Lectio Divina emerge do silêncio, da solitude e do recolhimento. Conduz a um amadurecimento espiritual e ao autoconhecimento e gera um desejo de maior intimidade com Deus, e de servir ao próximo com santidade e discrição.
,Osmar Ludovico
A meditação cristã é uma das mais marcantes e significativas páginas da história da Igreja. É uma expressão que vem desde a época dos Pais do Deserto. Foi muito utilizada e praticada pela Monástica e sistematizada na Lectio Divina pelo monge cartuxo Guigo II (1173-1180). Hoje é também conhecida como Meditação Cristã ou Leitura Orante das Escrituras.
Guigo II utiliza a idéia de uma escada para a prática da Lectio Divina, sugerindo uma subida para um encontro no alto, no monte de Deus, e logo uma descida para um encontro nas profundezas, no fundo do coração.
Statio (preparação), Lectio (leitura), Meditatio (meditação), Oratio (oração), Contemplatio (contemplação), Discretio (discernimento), Collatio (compartilhar) e Actio (ação) são os degraus dessa milenar tradição de ler a Bíblia.
Esses passos constituem um movimento integrado em que cada degrau conduz ao outro. Passo a passo, lentamente saboreando cada passo, em direção ao topo, para, em seguida, descer ao vale, voltar ao concreto e ao cotidiano.
Assim diz Guido: “A leitura – Lectio – é o estudo atento da Escritura feito com um espírito totalmente orientado para sua compreensão. A meditação – Meditatio – é uma operação da inteligência, que se concentra com a ajuda da razão, na investigação das verdades escondidas. A oração – Oratio – é voltar com fervor o próprio coração para Deus para evitar o mal e chegar ao bem. A contemplação – Contemplatio – é uma elevação da alma que se levanta acima de si mesma para Deus, saboreando as alegrias da eterna doçura”. E completa: “A leitura leva à boca o alimento sólido, a meditação corta-o e mastiga-o, a oração saboreia-o, a contemplação é a própria doçura que alegra e recria”.
O objetivo não é um estudo bíblico ou uma exegese. É leitura bíblica que nos conduz a uma experiência de encontro com Deus e a uma experiência de oração. Ex 33.11 diz: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer um fala ao seu amigo”.
O propósito da Lectio Divina não é, simplesmente, aumentar o nosso conhecimento intelectual, mas nos levar a um encontro vivo com Jesus Cristo. Tal encontro não nos deixa ilesos, mas faz com que nossa pobreza espiritual aflore, nossos pecados venham à tona, bem como nos indica o caminho da transformação de nossas vidas.
Sem isso, podemos conhecer as Escrituras só racionalmente, sem que elas penetrem nas dimensões mais profundas do nosso ser para tocar nossa consciência, nosso coração, nossa vontade.
Na leitura meditativa, a Palavra não é interpretada, mas recebida. Uma palavra única, exclusiva, que nos ajuda a penetrar no “mistério de Cristo em nós, a esperança da glória” (Cl 1.27). Na Lectio não empregamos a “força de vontade” ou uma disciplina da ordem da razão ou do esforço, mas lemos a Palavra para que ela nos surpreenda, para que ela toque a nossa alma a partir de uma revelação pessoal, dirigida pelo Espírito através de nossa intuição, nossa imaginação, nossos afetos e sentimentos.
Para ler a Bíblia de forma reflexiva, precisamos de um tempo de preparação, de corpo relaxado, de alma apaziguada, de espírito pronto e alerta. Começamos com o nosso corpo, suas dores e tensões, procurando relaxar em uma posição confortável. Faremos, então, contato com nossa alma e seus muitos ruídos internos, procurando trazê-la de volta ao seu sossego (Sl 116.7: “Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo”). Oramos ao Senhor, em quietude, com serenidade, aguardando o Senhor (Sl 130.5: “Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda, espero na sua palavra”). Então lemos a Palavra, sem forçar nada, deixando acontecer, nos entregando a ela, iniciando um diálogo com Deus no profundo de nossa alma. Podemos ter um diário onde escrevemos nossas meditações, resgatando uma linguagem mais poética, mais metafórica, uma linguagem da alma, dos sentimentos, dos afetos. Davi tinha um diário que se tornou o livro dos Salmos, onde contava e cantava sua vida com Deus.
A prática da Lectio Divina emerge do silêncio, da solitude e do recolhimento. Conduz a um amadurecimento espiritual e ao autoconhecimento e gera um desejo de maior intimidade com Deus, e de servir ao próximo com santidade e discrição.
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